segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Pássaros na cabeça

         
Henri Lartigue

        O que se sabe da vida é o não saber, e depois de milhares de horas de insônia aprender que ela está aí para escapar, escorrer, na sua impossibilidade inegociável de ser segurada. Então melhor é pegar cada hora com a beleza e a amargura que nos chega e seguir. Amanhã  talvez não exista, existir também é mero ponto de vista. Conheço muita gente que não se sabe morta e teme morrer. Alguns corações pulsam, outros apenas executam sua função fisiológica de bombear o sangue. A vida é o tempo com toda sua relatividade e grandeza, é  o desnorteamento organizado, o trapézio sem rede, a constante comunicação surda, a solidão de inevitavelmente ser um. É preciso apreender a força das raízes, mas plantar pássaros na cabeça e quiça  voar com eles.

Márcia Batista