sábado, 18 de janeiro de 2020

Branca

11/09/2005 - 21/12/2019








































































Onde encontro de novo a vida que te habitava, aquele sopro impalpável, aquilo que some na matéria rígida e calada. Presença falta, memória que insiste em abraçar o espectro de ti. Memória Branca, a saudade tem a cor dos teus olhos castanhos e cheios de mundo. Viveria todos os dias desses quatorze anos contigo, todos os dias de novo a admirar o ar entrar e sair de ti. Senti tantas vezes teu coração em minhas mãos e tu quis em tua última respiração que eu sentisse em meu próprio peito a tua última batida . Só soube ser lágrimas porque nunca te concebi morte. Sabia, pulsava em mim ser gratidão por nosso encontro, mas sempre me faltava mais um pouco de ti. Assim é o amor? Não se contenta com o tempo mortal, com as horas dos órgãos. O amor não cabe numa única vida. Eu acaricio tuas orelhas, eu relembro cada deformidade de tuas patas gastas pela felicidade do vivido. Encosto meu rosto no teu,sinto teus pelos, ouço teus latidos. Onde minhas mãos encontram tuas formas de novo, as posso sentir e escorrer como vento agora que tu não és mais tu. Do corpo à memória, da memória a presença-ausência, o estar não estando ao alcance do toque,mas a alma cheia de Ti. Percurso tortuoso o de estar não estando e não estando estar no infinito de cada detalhe. Percorro anos até buscar em algum lugar, mínimo lugar , que possa ter falhado. Percorro praias, Campos, rios, cidades, amigos, abraços e parques . Tu está lá , mesmo antes de ter estado tu esteve, tu permanece. Tua vida é tão grande que preciso descobrir outro lugar que não se chama morte. Chamo-te vida Branca, meu pedaço de vida Branca, uma vida que baterá em meu peito até estarmos juntas de novo. Eu preciso acreditar que vamos nos abraçar de novo . Não em vão tu fez meu coração parar por um segundo junto ao teu na hora da tua partida, para que em mim brote a esperança no infinito.