Foto: Márcia Batista
Foto: Márcia Batista
Em dias que o
verbo sonhar foi sequestrado da gente, o fio e o barco alimentam um pouco a
fome de alegrias. Barco e fio no alento de viajar palavras, em um embarco, em
outro me dependuro e organizo minhas angústias, enrolo e desenrolo. É melhor
angústia organizada do que toda espalhada por dentro de mim, não gosto.
O barco viaja
pra lá e pra cá nos trazendo histórias, palavras, informações, navega em mar
alto e revolto. Não usa âncora, eu gosto desta peculiaridade do barco. É solto
nos oceanos, quanto mais vento melhor, vive distribuindo poesia nas Marinas que
escolhe parar. É um barco todo colorido e cantante, mas se engana quem pensa que
não vira submarino. Vai até as
profundezas, faz partos onde nem se sabia que havia o que sair. É um barco cirúrgico,
preciso no afeto, no tom da voz, no abraço, em suas embarcações. Soube muito
cedo que iria ser navegante, esvoaçante, barco, parto, marco, arco. Martelo,
singelo, elo. O fio parece espevitado, mas
é sua dança, seu ser bailarino, brinca com as palavras porque é muito íntimo
delas, porque as come, se alimenta delas. Faz e desata nós, faz e desata pra
nós. O fio ama(rra )daqui, ama dali, nos laça sem esforço. As pernas do fio são
compridas e velozes. Existe de todas as cores, sabores, dores, amores. O barco
e fio sabem fazer dos dias uma vigem a tecer e reinventar vidas.
Márcia Batista
Um comentário:
Muito, muito, muito lindo. Honrada de passear novamente por esse lindo blog lindo. Gosto sempre do que encontro por aqui. Obrigada por transformar o simples em poesia. Escreve, escreve sempre. E fotografa. E grava. O mundo merece ter tuas marcas espalhadas por todos os lugares. Pode ser que, com elas, fique mais humano.
Beijos e muito sucesso nesse belo espaço.
Xonia
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