O tempo escorre da gente, e assim vai rindo do sonho humano de capturá-lo. Passa sem passar, fica sem pedir, não obedece relógios, seu senhor é o sentir. Congela e corta na saudade, voa no encontro, é sempre agora no amor, é longo e sem fim na dor, é cárcere na perda. O tempo corre da gente, não nos pertence, não somos do tempo contado, somos seres do tempo sentido. É ele que mostra a medida do mundo, o tamanho das almas, a força dos ventos. É ele que lambe as feridas, que arranca as vísceras, que deforma o olhar, que reforma o olhar. Armazém das horas, morada de amores, cores, dores e odores.
O tempo morre na gente, enterra palavras, desperta silêncios, embaralha a lógica do que foi, do que é e do que será. O tempo não se conjuga, não se guarda, não se dobra, é o dono absoluto das sombras e do sol. É ele o guardador de sementes, é nele que se adormece, é dele que se renasce, é por ele que se floresce.
Márcia Batista