"Todo homem é comum mesmo não sendo. O não ser comum do homem parece
estar em sua forma própria de ser comum. Em seu jeito singular de
sofrer, brincar, envelhecer. Em sua necessidade de construir,
simbolizar, criar. Um homem não deixa de ser comum mesmo entre letras,
livros, máquinas, sistemas, signos. Um homem é sempre uma trajetória que
declina. Que ascende, mas que declina. O comum do homem é sua
aparição relâmpago, o seu constituir e o seu perecer. O comum do homem é
sua necessidade de dizer, manifestar, inscrever, perpetuar. Ao mesmo
tempo sua impossibilidade de permanecer. Todo homem constitui-se na
tensão entre viver e morrer, entre dizer e calar, entre subir e descer.
Mas, por razões extensas e difíceis, a história humana parece ter se
ordenado em torno da vontade de não ser.
Não envelhecer, não sentir dor, não se cansar, não se aborrecer. O homem parece envergonhar-se de ser: pequeno, sensível, mortal, humano. E organiza-se em torno de um ideal de homem, sem corpo. O homem envergonha-se de seu corpo. Não de seu sexo ou de seu prazer, mas de suas vísceras, de seus excrementos, de seus sons e odores, de seu processo bioquímico, fisiológico, orgânico. O homem envergonha-se de morrer e vai acuando-se, escondendo-se, perdendo-se em torno de uma idéia, de uma imagem. Em sua luta por não ser comum, o homem tornou-se nenhum. Todo homem virou nenhum. Nenhum homem na rua, em casa. Nenhum homem na cama. Nenhum homem, mas um nome. O homem se reduziu a um nome. Não um nome próprio, mas um substantivo".
Não envelhecer, não sentir dor, não se cansar, não se aborrecer. O homem parece envergonhar-se de ser: pequeno, sensível, mortal, humano. E organiza-se em torno de um ideal de homem, sem corpo. O homem envergonha-se de seu corpo. Não de seu sexo ou de seu prazer, mas de suas vísceras, de seus excrementos, de seus sons e odores, de seu processo bioquímico, fisiológico, orgânico. O homem envergonha-se de morrer e vai acuando-se, escondendo-se, perdendo-se em torno de uma idéia, de uma imagem. Em sua luta por não ser comum, o homem tornou-se nenhum. Todo homem virou nenhum. Nenhum homem na rua, em casa. Nenhum homem na cama. Nenhum homem, mas um nome. O homem se reduziu a um nome. Não um nome próprio, mas um substantivo".
Viviane Mosé
Nenhum comentário:
Postar um comentário