segunda-feira, 30 de julho de 2012

Tempo (ral)





O tempo escorre da gente, e assim vai rindo do sonho humano de capturá-lo. Passa sem passar, fica sem pedir, não obedece relógios, seu senhor é o sentir. Congela e corta na saudade, voa no encontro, é sempre agora no amor, é longo e sem fim na dor, é cárcere na perda. O tempo corre da gente, não nos pertence, não somos do tempo contado, somos seres do tempo sentido. É ele que mostra a medida do mundo, o tamanho das almas, a força dos ventos. É ele que lambe as feridas, que arranca as vísceras, que deforma o olhar, que reforma o olhar. Armazém das horas, morada de amores, cores, dores e odores.
O tempo morre na gente, enterra palavras, desperta silêncios, embaralha a lógica do que foi, do que é e do que será. O tempo não se conjuga, não se guarda, não se dobra, é o dono absoluto das sombras e do sol. É ele o guardador de sementes, é nele que se adormece, é dele que se renasce, é por ele que se floresce.
Márcia Batista

3 comentários:

Sheila C.S. disse...

Armazém das horas... Ah, que bom que existe este lugar! Que bom que este armazém oferece coisas assim, tão belas, tão profundas... Tesouro num mundo carente de profundidade.

Márcia disse...

Sempre aberto e com café quente. Tua visita é sempre uma alegria.

Unknown disse...