Eu não amava que botassem data na minha existência. A gente usava mais era encher o tempo. Nossa data
maior era o quando. O quando mandava em nós. A gente era o que quisesse ser só usando esse advérbio. Assim,
por exemplo: tem hora que eu sou quando uma árvore e podia apreciar melhor os passarinhos. Ou tem hora que
eu sou quando uma pedra. E sendo uma pedra eu posso conviver com os lagartos e os musgos. Assim: tem hora
eu sou quando um rio. E as garças me beijam e me abençoam. Essa era uma teoria que a gente inventava nas
tardes. Hoje eu estou quando infante. Eu resolvi voltar quando infante por um gosto de voltar. Como quem
aprecia de ir às origens de uma coisa ou de um ser. Então agora eu estou quando infante."
Manoel de Barros
2 comentários:
eu sou quando matéria líquida diante das palavras dele...
Que lindo.
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